Impostômetro

31 de outubro de 2013

Alunos de agroecologia realizam trabalhos nas comunidades rurais do Estado


Alunos do curso técnico em Agroecologia do Instituto Dom Moacyr estão realizando atividades com pequenos produtores rurais dos municípios do Estado. As ações fazem parte da finalização do curso. A aluna Zilane de Oliveira irá atuar na comunidade de assentamento do Incra, no Polo Pirandirá, localizado na área rural de Senador Guiomard.
Residem nessa localidade quase 110 famílias, que serão orientadas para trabalhar a terra de forma sustentável. Outro foco que está sendo repassado aos alunos para que eles trabalhem com os produtores é referente ao Programa de Piscicultura. O governo do Estado já autorizou a construção de tanques para a criação de peixes nessas comunidades, que em pouco tempo estará sendo efetivada. Os educandos serão distribuídos em várias áreas de produção rural do Estado.
O curso de Agroecologia prepara, ainda, o profissional para executar ações sobre o uso sustentável da floresta, avicultura, horticultura, bovinocultura leiteira, apicultura e gestão comunitária. Ele é executado na Escola da Floresta pelos governos federal e do Acre, por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Zilane de Oliveira, 25, é mãe de três filhos, assentada do Polo Pirandirá e concludente do curso de Agroecologia. Ao finalizar o curso, ela pretende retornar à comunidade rural para trabalhar como técnica, utilizando os conhecimentos adquiridos. “Cresci muito profissionalmente, quem chega aqui já vem com um pouco de conhecimento sobre os meios rurais e consegue aperfeiçoar bastante. Na minha área de terra pretendo trabalhar com frango, peixe e comércio.”
Segundo o diretor-presidente do IDM, Marco Brandão, o governador Tião Viana tem investido grandemente para o fortalecimento e inovação tecnológica da produção agrícola e animal. "A formação técnica e profissional de filhos de produtores rurais irá contribuir para a melhoria da produção de subsistência e da qualidade dos produtos a serem comercializados.”

BR AGROECOLÓGICO: Governo lança o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

Missão - O Brasil Agroecológico tem como principal missão articular políticas e ações de incentivo ao cultivo de alimentos orgânicos e com base agroecológica e representa um marco na agricultura brasileira. O investimento inicial será R$ 8,8 bilhões, divididos em três anos.

novidade 17 10 2013A presidenta Dilma Rousseff lançou nesta quinta-feira (17/10) o Brasil Agroecológico. É o primeiro Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) elaborado no País. A solenidade aconteceu no Centro de Eventos Brasil 21, em Brasília, onde ocorre a 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (2ª CNDRSS).
Programas - Desse total, R$ 7 bilhões serão disponibilizados via crédito agrícola por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Plano Agrícola e Pecuário. Já R$ 1,8 bilhão será destinado para ações específicas, como qualificação e promoção de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), desenvolvimento e disponibilização de inovações tecnológicas, bem como na ampliação do acesso a mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Ministérios - Dez ministérios, sob a coordenação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), estão envolvidos no Plano, que visa contribuir para o desenvolvimento socioeconômico dos agricultores brasileiros e a preservação ambiental. O objetivo é ampliar e fortalecer a produção, manipulação e processamento de produtos orgânicos de base agroecológica, tendo como público prioritário: agricultores familiares, assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais e suas organizações.
Política nacional - As ações se baseiam na Política Nacional sancionada pela presidenta em agosto de 2012 e amplamente discutida por dois grupos formados especificamente para debater o tema. Um deles é a Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (Ciapo), que tem apenas representantes do governo. O outro é a Comissão Nacional Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo), coordenada pela Secretaria-Geral da Presidência da República, com representantes do governo e da sociedade civil.
Ecoforte - Durante o evento, também será assinado o acordo de cooperação que institui o Programa Ecoforte, que vai potencializar as ações do Brasil Agroecológico, apoiando as redes, cooperativas e grupos produtivos de agroecologia, produção orgânica e extrativismo para fortalecimento da produção e processamento, do acesso aos mercados convencionais, alternativos e institucionais e para ampliação da renda dos agricultores familiares e extrativistas. O programa Ecoforte contará com recursos da Fundação Banco do Brasil (FBB) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Laranjeiras - UFFS lança curso de Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável

Nesta quinta dia 31, às 14 horas, no campus de Laranjeiras do Sul da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, será realizado o evento de lançamento do Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável.

As primeiras discussões para criação do curso iniciaram-se em 2010 e teve o envolvimento de muitos professores, entidades e movimentos sociais. A aprovação do curso foi divulgada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e representa uma grande conquista para UFFS e toda região.

O mestrado está na área de Avaliação Interdisciplinar, o que permite a participação e o diálogo entre profissionais graduados de diferentes áreas do conhecimento.

O curso está organizado em duas linhas de pesquisa:

Linha 1: Agroecossistemas, sustentabilidade e agrobiodiversidade

Busca o desenvolvimento de pesquisas sobre a dinâmica e funcionamento de agroecossistemas, a geração de tecnologia e inovação através do enfoque agroecológico, processos biológicos da agrobiodiversidade, indicadores de sustentabilidade e aspectos teóricos, práticos e metodológicos da Agroecologia como resultantes do diálogo de saberes (entre ciências e destas com os saberes que emergem da experiência dos agricultores), com vistas a uma nova matriz produtiva geradora de trabalho e renda de forma equitativa.

Linha 2: Dinâmicas socioambientais

Envolve pesquisas sobre os processos e estratégias de desenvolvimento rural, sustentável bem como as dinâmicas socioambientais, incluindo aspectos socioeconômicos, relações de mercado e comercialização e geração de trabalho e renda que se dão no espaço rural, com ênfase nas questões de soberania, segurança alimentar e políticas públicas. Estudam a dinâmica das relações entre sociedade e natureza, o significado do ambiente e seus componentes materiais e imateriais no seu contexto histórico, bem como as formas de apropriação dos recursos naturais e impactos ambientais e efeitos sociais, econômicos e ambientais resultante das estratégias de desenvolvimento em curso.

O público-alvo são candidatos que concluíram curso superior de Graduação reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), no país e/ou no exterior, e candidatos que comprovem, mediante declaração de Instituição de Ensino Superior, que terão concluído o curso de graduação até o ato de matrícula.

A duração do mestrado é de até dois anos e as aulas terão início em março de 2014. No evento de lançamento serão apresentados mais detalhes sobre o curso. O edital do processo seletivo para ingresso de alunos em 2014 será lançado em breve e disponibilizado no site da UFFS.

Toda comunidade está convidada a participar do evento. Mais informações sobre esse programa de pós-graduação podem ser obtidas no site da UFFS (www.uffs.edu.br > Pós-Graduação > Strictu Sensu > Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável).

“O Plano Nacional de Agroecologia é uma conquista, mas se a ANA o construísse seria muito mais ambicioso”, afirma Denis Monteiro


denis monteiroA avaliação da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) é que o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), lançado pela Presidenta Dilma Rousseff no dia 17 de outubro, é positivo e representa uma conquista dos movimentos sociais do campo, embora esteja aquém das demandas das organizações e agricultores. Essa é a análise de Denis Monteiro, secretário executivo da ANA. Segundo ele, existem possibilidades significativas para o avanço da agroecologia no Brasil desde que haja uma participação ativa da sociedade e do governo para a execução das iniciativas e metas do plano.

Qual a avaliação dos movimentos em relação ao Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica que foi lançado e vai até 2015?
É uma grande conquista dos movimentos sociais do campo, e aqui vale destacar o protagonismo das mulheres e da Marcha das Margaridas. É uma oportunidade para aumentar e diversificar a produção agroecológica em todos os lugares do Brasil, envolvendo mais agricultores e agricultoras nas dinâmicas sociais de promoção da agroecologia. Não tivemos surpresas com o seu conteúdo, o Plano é muito próximo das últimas versões discutidas e apresentadas nas reuniões da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO). Foi interessante que o ato de lançamento contou com o anúncio de diversas iniciativas concretas previstas no plano, que já cobrávamos do governo há meses: a assinatura do acordo do Programa Ecoforte, de fortalecimento de redes de promoção da agroecologia, a Chamada de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para Agroecologia, outra para pescadores artesanais, a assinatura de um acordo do BNDES com a ASA (Articulação Semiárido Brasileiro) para a construção de tecnologias sociais de armazenamento de água para produção e estruturação de bancos comunitários de sementes.
Embora o lançamento tenha demorado alguns meses além do que esperávamos, foi feito com o anúncio de medidas concretas e isso é positivo. Foi a primeira vez que vimos uma Presidenta da República falando claramente em agroecologia, enfim o Estado brasileiro começa a reconhecer a agroecologia e seu potencial para a produção de alimentos saudáveis e conservação dos bens comuns, dando mais voz e espaço à cidadania e ao povo que aos interesses das grandes corporações, como disse a Presidenta Dilma por ocasião das manifestações de junho. Mas não é o plano dos nossos sonhos. Se nós da ANA construíssemos um plano ele seria muito mais ambicioso, teria mais recursos alocados e mais iniciativas. Mas é uma grande oportunidade para avançarmos na internalização do enfoque agroecológico nas instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão e no fortalecimento das organizações da sociedade civil que historicamente trabalham com a promoção da agroecologia, mas para isso seguiremos cobrando do governo a revisão do marco legal que regula a relação entre o Estado e a Sociedade Civil no que diz respeito ao acesso a recursos públicos para o desenvolvimento, pois sem o protagonismo das organizações da sociedade civil, não se avança na promoção da agroecologia.
No processo de instituição da política e elaboração do plano, as organizações questionaram muito a ausência da reforma agrária na pauta.
Desde o decreto que institui a política, fizemos a crítica da ausência da reforma agrária e da garantia dos direitos territoriais das populações tradicionais. Achamos inadmissível que o governo federal fique refém do pacto de economia política que favorece as multinacionais do agronegócio e os latifúndios e interdita o debate sobre a necessidade da reforma agrária e da garantia dos direitos territoriais das populações tradicionais. Consideramos que foi importante o anúncio, durante o lançamento do Planapo, que até o final deste ano de 2013 serão editados cem decretos de desapropriação de grandes fazendas para fins de reforma agrária. Reivindicamos reiteradamente que sem a realização da reforma agrária não é possível avançar na agroecologia, embora a gente saiba que esses cem decretos estão muitíssimo aquém das demandas dos movimentos sociais e das necessidades históricas do campesinato. Consideramos de grande relevância política que esses decretos de desapropriação tenham sido anunciados junto com o plano de agroecologia, pois sinaliza que é preciso garantir terras para os agricultores familiares e as comunidades tradicionais se queremos avançar na promoção da agroecologia. A base social da agroecologia é a agricultura familiar, camponesa, e as populações tradicionais, que hoje estão ameaçados no contexto de avanço do agronegócio. Essas populações vêm sendo desterritorializadas, e o processo de reforma agrária continua praticamente parado. Tomara que esse anúncio tenha sido um movimento no sentido de recolocar na agenda política do Brasil a questão da reforma agrária, porque a agroecologia contribui com isso. Só vamos avançar com a agroecologia se tivermos uma reestruturação da propriedade da terra no Brasil, que hoje é extremamente concentrada. Isso é um limite estrutural, e precisa ser superado. Vamos cobrar do governo os decretos de desapropriações prometidos como se fossem metas do plano de agroecologia.
Como será o funcionamento do plano a partir do lançamento e a participação da sociedade nessa dinâmica, inclusive no controle social?
Na reunião da CNAPO que seguiu o lançamento do Plano foram instituídas algumas subcomissões temáticas e grupos de trabalho. Tem um grupo de trabalho previsto no plano para construir um Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos, nossa expectativa é que ele seja formalizado e tenha uma participação ativa da sociedade civil e do governo para sua realização, pois a situação é dramática e um país que merece um plano de agroecologia não pode continuar com o título de campeão mundial no uso de agrotóxicos. Uma subcomissão formada foi sobre conhecimento, que será responsável por desenhar, implementar e monitorar as medidas relacionadas a Ater, a pesquisa e o ensino. A outra é sobre sementes, e vai trabalhar sobre a agenda da ampliação do trabalho de promoção das sementes crioulas e varietais para enfrentar esse processo de grave erosão genética e avanço dos transgênicos no Brasil. Há uma subcomissão sobre produção, fomento, crédito e agroindústria, que vai traçar as estratégias para redesenhar a política de crédito para a agricultura familiar, porque hoje o crédito tem sido um instrumento para atrelar a agricultura familiar às cadeias do agronegócio com a compra de insumos químicos e especialização da produção. Então esse crédito precisa ser redesenhado para que o financiamento público seja orientado para promover os sistemas agroecológicos. Também tem uma subcomissão sobre sociobiodiversidade que vai ser responsável por iniciativas relacionadas ao agroextrativismo, ao incentivo à produção e beneficiamento de plantas nativas, como a juçara, o açaí, a castanha, o pinhão, entre outros. Além dessas, há uma subcomissão de insumos, que vai tratar da agenda de regularização dos insumos para produção orgânica, pois o Estado tem sido ágil para liberar agrotóxicos, mas extremamente lento para registrar e liberar para comercialização produtos para produção orgânica. E a subcomissão temática de produção orgânica, que já existia. Foi criada também a subcomissão de gênero, os movimentos de mulheres vão ter uma atenção específica às ações e políticas para as mulheres, mas também vão participar das outras subcomissões para discutir como as iniciativas incorporam o incentivo à participação e protagonismo das mulheres.
Então foram instaladas essas subcomissões que vão fazer o desenho mais detalhado das iniciativas e um acompanhamento da execução do plano. Não adianta ter um plano com ações interessantes e guardadas na gaveta sem operacionalização. A Presidenta Dilma também deu o recado para os seus ministros e secretários responsáveis por tocar essa agenda, que as metas têm que ser executadas. Então vamos continuar cobrando. As metas tem que ser executadas com a participação ativa da sociedade civil, não há construção da agroecologia sem as organizações dos agricultores e sem fortalecer as organizações de assessoria que vêm construindo a agroecologia, algumas há trinta anos, muitas vezes sem o apoio do Estado. Agora que o Estado começa a reconhecer a agroecologia e desenha um plano nacional, esse protagonismo da sociedade civil não pode ser abandonado.
O plano também será objeto de debate e monitoramento em outros espaços de controle social, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF) e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), assim como nas comissões estaduais da produção orgânica.
Tem mais alguma questão em relação a esse lançamento que mereça destaque?
Uma questão que a Presidenta Dilma destacou em seu discurso é a importância do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O programa vem recebendo ataques pela grande mídia, e sofrendo até questionamentos do governo norte americano, e a ANA repudia essas tentativas de desqualificá-lo, já inclusive publicamos uma carta aberta assinada com mais de cem organizações. Esse programa é muito bem sucedido, e absolutamente estratégico para o plano de agroecologia, porque viabiliza fomenta a diversificação da produção da agricultura familiar e a comercialização com a compra pelo Estado para os programas públicos de promoção da segurança alimentar e nutricional. Atua inclusive na dinamização de redes territoriais de promoção do uso e conservação das sementes crioulas. A Presidenta deu o recado claro, em seu discurso, que o programa será mantido e fortalecido, o que é muito importante nesse contexto de uma ofensiva de quem não quer que o programa dê certo. Outro destaque é o programa Ecoforte de fortalecimento das redes de promoção da agroecologia, produção orgânica e extrativismo. Esse programa lançado junto com o Plano tem um papel fundamental. Sabemos que o sucesso do plano vai depender da nossa capacidade de mobilização e pressão, e para isso estaremos empenhados, sobretudo agora que estamos mobilizados na preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia.

Caravana Agroecológica e Cultural do Mato Grosso começa criticando uso excessivo de agrotóxicos no Estado

Indígenas matogrossenses da etnia Negarotê/Nambiquara fizeram uma oração para dar início à Caravana Agroecológica e Cultural do Mato Grosso, em Cáceres, evento que ocorrerá até a próxima sexta-feira (01).  Cerca de cem participantes percorrerão duas rotas com o objetivo de promover intercâmbios com ênfase nas experiências agroecológicas do sudoeste e da baixada cuiabana e os olhares de outras regiões do Brasil. Agricultores familiares, agroextrativistas, lideranças de movimentos sociais do campo e organizações da sociedade integram a atividade.

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De acordo com Lucineia Freitas, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desde 2009 o Brasil assumiu o ranking mundial do consumo de agrotóxicos e o estado do Mato Grosso o ranking nacional. Ela destacou a importância do lançamento da Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, após um seminário realizado em Cuiabá (MT) com a participação de várias organizações e sindicatos.
“A média nacional de consumo de agrotóxicos é de 5,2 litros e no Mato Grosso 31 litros. Em 2012 realizamos seminários em todo o estado, e hoje a Campanha tem diversas entidades. Neste ano houve um seminário importante para constituir um comitê local na região de Colider e Alta Floresta. Fizemos uma nota técnica para apresentar ao Ministério Público para aumentar a pulverização terrestre para 300 metros de distância, e em março o governador assinou um decreto para reduzir para 90 metros. Denúncias nos mostram que além daquilo que chamam de acidente, está havendo o uso proposital de agrotóxico em conflito pela terra com a utilização da pulverização”, disse.
IMG 2560Na semana passada ocorreu o Encontro Internacional de Ecologia e Saberes, no Ceará, e foi dado o ponta pé inicial para a constituição de um dossiê latino-americano sobre os impactos dos agrotóxicos. Segundo Fran Paula, da ONG Fase- Educação e Solidariedade, que participou da atividade, o evento se uniu à Caravana Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi e visitou Limoeiro do Norte (CE), município altamente prejudicado pelos venenos.
“Nessa cidade José Maria Tomé, liderança local que denunciava o uso indiscriminado de agrotóxicos na região foi assassinado. Começaremos a caravana do Mato Grosso vendo um filme que retrata essa realidade, para fazer uma reflexão, se questionar e nos prepararmos para esses desafios e conflitos no estado. E o filme Uma nuvem de veneno, lançado em agosto, produzido pela Fiocruz junto com o Instituto de Saúde da UFMT, fala sobre o uso de agrotóxicos no Mato Grosso”, afirmou.
IMG 2562O vídeo Uma nuvem de veneno mostra as contradições do agronegócio na região. Nos 141 municípios no Mato Grosso, de acordo com o médico Wanderley Pignati, existem muitos técnicos para vigilância da saúde da soja e do boi enquanto o trabalhador e o ambiente têm uma estrutura ínfima no estado. O Mato Grosso é o maior produtor de soja, gado e consumidor dos agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes). Em sua maioria para a exportação, deixando os insumos químicos no território. Há muitas imagens de pulverização aérea na filmagem, e relatos dos agricultores e técnicos: quebra de uma cadeia da natureza que tinha equilíbrio, plantação de milho na Chapada dos Guimarães que é ponto turístico, poços artesianos contaminados em comunidades e diversos relatos de intoxicação com agrotóxicos.
Ao fim da exibição dos vídeos os participantes debateram o tema. Muitas pessoas relataram as dificuldades enfrentadas em seus territórios, como o caso de suicídios de agricultores na fumicultura no sul do país. Os indígenas relataram que até pouco tempo seus familiares viviam cento e poucos anos, enquanto hoje chegam no máximo aos 80 devido aos impactos ambientais e a falta de alimentos sadios. Uma agricultora da região sul defendeu o uso de insumos orgânicos para o combate de pragas de forma natural, destacando suas experiências bem sucedidas. A reflexão sobre o uso intensivo de agrotóxicos no estado do Mato Grosso foi mais uma vez alvo de análise dos participantes no término da abertura.

Caravana do Apodi: Moradores do Vale do Açu em risco por causa de barragem

A primeira visita da Rota Padre Pedro na Caravana Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi ocorreu na manhã da última quarta-feira (23) no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia, do Rio Grande do Norte (IFRN), no município de Ipanguaçu. Desde março de 2012 a instituição conta com um curso superior de agroecologia, após alguns anos no ensino médio, o único nos institutos federais do estado. “Agroecologia não é utopia, é justiça!”, alertava a faixa exposta pelos alunos que receberam a caravana no local. A atividade encerrou com uma apresentação teatral de um grupo de estudantes representando o conflito da terra e a exploração do trabalho.
padre pedro

De acordo Evandro Firmino, diretor geral do campus, a filosofia da agroecologia é algo muito bonito e que deve vir para ficar. Mas precisamos avançar muito mais não só nos movimentos e ampliar as vozes da agroecologia, complementou.
“Avançar também nas pesquisas, pois temos que produzir muito e com qualidade para termos condições de reduzir a fome do mundo. A agroecologia aparece tardiamente mas veio para ficar, sentimos a necessidade da movimentação para dar sustentabilidade a isso. Por outro lado, não vemos recursos para pesquisas para a redução dos agrotóxicos e pesticidas”, observou.
Engenheiro agrônomo que serviu ao agronegócio durante 21 dos seus 28 anos de trabalho, o professor Júlio Justino conta que teve de se converter ao passar no edital para o curso de agroecologia no IFRN. Segundo ele, esse processo não é fácil até porque a universidade forma engenheiros agrônomos no modelo convencional.
“Temos várias turmas de agroecologia que terminaram aqui e mostrando resultados na região. É muito importante esse momento com uma caravana desse nível, multidisciplinar, delegações de todo o país. Tudo isso justifica o nosso curso de agroecologia na região para se integrar ao movimento. É uma região rica com povo pobre, com recursos naturais, solo fértil, clima favorável, mais vários fatores, com mão de obra barata atraindo as empresas do agronegócio. A terra está concentrada nas mãos de poucos, e pequenos proprietários se tornam assalariados para as empresas”, afirmou.
O professor listou uma série de empresas que se instalaram na região e faliram, de modo a demonstrar a insustentabilidade dos empreendimentos no longo prazo. Ele falou ainda sobre o Distrito de Irrigação do Baixo Açu (Diba), que foi projetado com uma capacidade instalada de 6 mil hectares e começou a funcionar em 1992 com um projeto piloto de 600 hectares chegando a funcionar 3 mil hectares quando a partir daí a terra começou a salinizar e diminuir. Problemas de assessoria técnica, de gestão, dívidas em bancos, baixa capacidade de aporte de recursos, foram alguns dos fatores apontados pelo estudioso.
Monocultura da banana e as expropriações
Poucos agricultores da comunidade que foi cercada pelos bananais da empresa Del Monte resistiram à desapropriação, também no município, após a instalação da barragem. Na visita a Francisco Milton Soares, agricultor aposentado, ele contou que depois que a empresa chegou na região tudo mudou na vida dos moradores. Se antes tinham terra arrendada e compradores fixos para seus produtos em toda sexta-feira, hoje quase não têm terra para plantar e criar seus bichos, além das enchentes provocadas pelas mudanças nos rios.   
“Antes da barragem plantávamos na beira do rio, tiveram que desmatar as carnaúbas. O dono pediu para todos saírem para pulverizar,  deram uma casinha lá perto das cerâmicas, e quem quis ficar que nem eu eles passavam em cima. Hoje eles mudaram o sistema. Antes tinha água doce, hoje salgou e só serve pros bichos. Cheguei a ter 190 hectares e hoje só tenho minha casa”, afirmou.
Os agricultores trabalhavam muito no carnaúbal até comprarem suas terras, lembrou Dona Preta, vizinha na mesma comunidade. Ela acredita que daqui a alguns anos sua família precisará comprar água, porque as cisternas estão secando.
“Quando começou essa firma que envenenava a gente não podia comer peixe porque ele não assava nem cozinhava, ficava com o couro duro. Hoje o peixe é bom, ele ou nós nos acostumamos, talvez porque tenha menos veneno. Teve gente que trabalhava lá e ficou doente. Os caras que compraram chegavam e falavam: eu paguei vou soltar cem bois, se vocês quiserem vocês morem com eles. Nós perdemos porque não tinha quem falasse pela a gente. Os donos moravam no Rio de Janeiro”, destacou.
São muitos os relatos de pessoas intoxicadas e doentes por conta dos agrotóxicos na região, reforçou Julio Justino, professor de agroeocologia da IFRN. Os políticos, complementou, dizem que essas empresas geram empregos e impostos.
“O corretor comprava a terra de um pequeno, e quando um resistia pulava deixando ele isolado. O preço máximo dos resistentes era 8 mil por hectare, mas teve gente  que vendeu por até 3 mil. Em 2008 houve uma enchente e parou as compras, algumas dessas terras hoje são arrendadas para o pasto”, disse.
Os lotes nessa região são divididos entre os agricultores (8 hectares), técnicos (16) e empresários (50 a 100). A produtividade média de banana gira em torno de 13 toneladas em cada hectare por ano. E o manejo da banana é realizado de forma inadequada, se reaproveitas suas folhas para adubação da terra. Geralmente o empresário não mora no lote, ao contrário do agricultor familiar. Muitos terrenos já estão degradados nesses 20 anos de projeto e outras áreas em processo avançado de improdutividade do solo. Os camponeses ficam sem condições para pagar a energia e comprar os venenos, e por não terem o título do terreno não podem fazer empréstimos nos bancos. E a associação dos irrigadores tem hegemonia dos empresários e técnicos, dificultando a situação dos agricultores que ainda pagam taxas do DIBA e estradas, que são de responsabilidade do DNOCS.
De acordo com Gerusa Soares Costa, pedagoga e irmã de seu Francisco, além do rio Pataxó não ter leito mais os drenos da Del Monte mandam a sujeira para a comunidade.  Por conta dessas modificações com qualquer chuva alaga sua casa, sendo que antes era só no inverno.
“Não temos mais como se preparar para as enchentes. Recomendo a todos que estão em lutas parecidas e têm sua propriedade que não vendam para quem vem de outro estado ou país. Esse povo vem sem pena e piedade. Não temos mais nosso espaço, não temos mais acesso de ir e vir, nem podemos mais criar animais. As pessoas que cresceram com a gente foram embora e estamos limitado”, disse.  
Em seguida visitamos algumas terras de agricultores e o Distrito Irrigado do Baixo Açu (Diba). O professor Justino explicou que a evaporação intensa provocada pelo calor faz com que os sais fiquem na terra, então ao mostrar os drenos do projeto disse que eles são recomendáveis mas alertou que hipótese alguma os resíduos podem ser despejados nos rios. Quando chove transborda poluindo o lençol freático e degradando o solo, sendo também um risco para os animais no entorno.