Impostômetro

30 de junho de 2014

Doenças e pragas de hortaliças em cultivos orgânicos: princípios e manejo

Autor:  Luiz Augusto Martins Peruch, engenheiro agrônomo, Dr., pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br e acessar  os link “Publicações” e “Boletim didático”.


A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a utilização de agrotóxicos na agricultura.
Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos.
Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da  Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.
As pestes de plantas, causadas pelas diferentes classes de organismos vivos, devem ser encaradas como parte integrante de uma plantação. Todavia, cabe ao agricultor reconhecer e manejar as mais importantes na sua horta a fim de reduzir as perdas. Neste capítulo serão abordadas questões sobre a natureza das pestes –doenças e pragas de plantas, sintomas causados por elas, bem como métodos de controle aplicáveis no cultivo orgânico.

Razões do ataque das pragas e doenças
As hortaliças estão sujeitas a uma série de  doenças e pragas que causam danos às plantas. Os  microrganismos patogênicos (bactérias, fungos, nematoides e vírus) que causam doenças, quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação, etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor).
Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos microrganismos patogênicos e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pestes causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com nutrientes altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento.
A deficiência ou excesso de um nutriente influencia significativamente a atividade dos outros elementos e o metabolismo da planta. Adubações desequilibradas deixam as plantas mais susceptíveis a pragas e doenças. Excesso de  nitrogênio ou carência de  potássio e  cálcio diminuem a resistência da parede celular, facilitando a penetração dos microrganismos e o ataque de pragas.

Formas de manejar as doenças e pragas de forma integrada

O manejo eficiente das doenças e pragas é baseado em dois princípios fundamentais:
● É impossível controlar totalmente as pestes; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados.
● O manejo integrado é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica) para  evitar danos econômicos às culturas.
No manejo integrado de pestes, a manipulação das condições ambientais, adubações equilibradas, plantas resistentes e tratos culturais são alternativas ao controle químico convencional. A seguir, são discutidas formas de controle para pestes da parte aérea e do solo que podem ser usadas na agricultura orgânica.

Pragas e doenças  radiculares
As doenças e pragas  radiculares causadas por microrganismos patogênicos e insetos-pragas podem ser facilmente reconhecidas pelo fato de provocar os seguintes sintomas: amarelecimento, murcha, galhas, podridões de colo, de semente e de raiz, entre outras. Dificilmente são observadas em cultivos orgânicos de hortaliças, mas, se ocorrerem, podem ser manejadas com as práticas relacionadas a seguir.
Rotação de culturasEsta é considerada a prática mais antiga no manejo de doenças e de pragas e continua sendo uma das mais eficientes entre os métodos culturais de controle. Os princípios de controle envolvido na rotação de culturas são:  redução ou destruição do meio que serve para multiplicação do  microrganismos patogênicos; e a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo.
No caso da horticultura orgânica, este método é normalmente usado e mantém as pestes do solo sob controle. Contudo, em áreas pequenas se faz somente a rotação de canteiros em períodos muito curtos, nem sempre dando tempo suficiente para eliminação das pestes. Nesses casos, deve-se aumentar o período de rotação plantando gramíneas, como aveia-preta ou milho.
Preparo do soloEm casos de ataques anteriores e frequentes de doenças e pragas deve-se adotar o preparo adequado do solo para instalação da cultura como medida preventiva. Deve-se revolver muito bem o solo através de uma aração profunda, deixando-o exposto ao sol por uns dias. Repetir essa operação duas a três vezes e só depois realizar a gradagem. Essa prática destrói os micróbios por deixá-los expostos à radiação solar. Essa é uma prática válida para os fungos, bactérias e nematóides que atacam as hortaliças. Um bom preparo do solo pode reduzir o ataque de pragas, como a lagarta rosca e paquinhas, em várias hortaliças. Isso se deve ao fato de que esses insetos fazem ninhos no solo e o seu revolvimento mata a praga e destrói os seus ovos. Um bom preparo do solo no cultivo da batata e uma amontoa adequada terra (amontoa) evitam ataques de larvas-alfinete que perfuram os tubérculos.
Profundidade de plantioA maior profundidade de plantio das sementes pode afetar negativamente algumas plantas. Apesar de favorecer o processo de germinação, o plantio profundo de sementes aumenta a suscetibilidade das plântulas.
Destruição dos restos culturaisDeve-se sempre, antes de iniciar o preparo do solo, retirar da lavoura os restos do cultivo anterior (ramos, folhas e frutos) e fazer compostagem com eles para evitar possíveis focos de doenças, especialmente se foram verificados focos de plantas murchas ou amarelecidas. Além desse tratamento dos restos culturais, recomenda-se destruir plantas que apresentam esses sintomas durante o cultivo. Essa é uma prática válida, especialmente para as espécies das famílias botânicas das solanáceas, cucurbitáceas e brássicas, que apresentam maior incidência de doenças e pragas.
IrrigaçãoEm algumas situações a irrigação pode ser benéfica para a planta e ruim para o  microrganismo patogênico, criando condições de menor estresse para a primeira e destruindo as estruturas do segundo. Contudo, quando em excesso, pode beneficiar o  microrganismo patogênico por incentivar alguma de suas fases de desenvolvimento, sendo maléfica para o hospedeiro. Em lavouras de tomate e pimentão deve-se evitar regar à tarde para que a superfície do solo esteja enxuta durante a noite. A água de irrigação, tanto na sementeira como no plantio definitivo, deve ser de boa qualidade e não contaminada por solo infestado microrganismos patogênicos ou por restos de culturas doentes. Ocorrendo doenças bacterianas (murchadeira e canela preta), é recomendável a suspensão da irrigação e também a retirada das plantas doentes. Muitas vezes, importantes doenças e pragas parte aérea são beneficiadas pela aspersão. O gotejamento é o mais favorável no aspecto de manejo de doenças. Para o manejo de pulgões e trips que atacam várias hortaliças, muitas vezes uma chuva ou mesmo uma irrigação por aspersão pode reduzir a infestação dessas pragas. Assim, o produtor deve reconhecer qual problema  é o  mais importante para adotar o sistema de irrigação que trará mais benefícios para o cultivo.
Cobertura morta e adição de matéria orgânica ao soloAlém dos efeitos favoráveis em relação à diminuição da erosão, manutenção da umidade do solo e outros, a cobertura do solo também pode influir na sobrevivência e disseminação dos microrganismos patogênicos e insetos-pragas. A cobertura do solo proporciona condições físicas, químicas e biológicas mais equilibradas, favorecendo o hospedeiro e os microrganismos benéficos do solo, reduzindo, assim, a incidência das doenças radiculares. Reduções das perdas de umidade, maior infiltração e absorção de água, menores temperaturas do solo e proteção contra o efeito do impacto das gotas de chuva são alguns dos outros efeitos positivos da cobertura de solo. A disseminação dos propágulos de microrganismos patogênicos também pode ser dificultada quando há cobertura do solo devida à redução do poder de respingo. Dessa maneira, esporos de fungos e células bacterianas não são depositados na parte aérea das plantas. A incorporação de material orgânico fornece energia e nutrientes ao solo, alterando drasticamente as condições ambientais para o crescimento e a sobrevivência das plantas e microrganismos. Essa prática também influencia o desenvolvimento das doenças de plantas, diminuindo ou aumentando a sua intensidade. Quando ocorre uma redução da doença, normalmente, estão envolvidas algumas das seguintes alterações: aumento das populações de microrganismos  benéficos que influenciam o desenvolvimento ou sobrevivência dos microrganismos patogênicos , alterações das propriedades físico-químicas dos solos e produção de substâncias tóxicas.
Na Figura 1 há uma representação de dois solos manejados de forma convencional e orgânica. O solo manejado organicamente tem mais vida, ou seja, uma grande quantidade de macro e microrganismos benéficos que impedem ou limitam o desenvolvimento das pragas e doenças.


 Figura 1. Representação de um solo manejado no sistema convencional (esquerda) e orgânico (direita)   
Fonte: Chaboussou (1995).


Doenças e pragas da parte aérea
As doenças e pragas da parte aérea são causadas por microrganismos patogênicos e insetos-pragas que causam os seguintes sintomas: manchas foliares, ferrugens, cancros, mosaicos, distorções das folhas, perfurações e morte de ramos e galhos.
Destruição dos restos culturais Com o advento da agricultura moderna, várias antigas práticas de controle de doenças caíram em desuso em face de praticidade e economicidade do controle químico. Práticas como a destruição de restos culturais são raramente executadas em várias culturas. Na cultura da cebola, por exemplo, a destruição dos restos culturais doentes por meio da compostagem pode reduzir a queima das pontas em até 50%. O enterrio fora da lavoura de folhas doentes de repolho, couve-flor e brócolis também contribui para manejar algumas de suas doenças mais importantes, pois na superfície do solo os microrganismos patogênicos  podem sobreviver por 2 meses ou mais. Outra opção é fazer a compostagem utilizando os restos vegetais dessas culturas.
Nutrição equilibradaA adubação correta, com base em análise de solo, é fundamental, pois as plantas bem nutridas possuem maior resistência às doenças. O excesso de nitrogênio resulta na produção de tecidos jovens e suculentos, atrasando a maturidade da planta. Por outro lado, plantas mal supridas com esse elemento têm um fraco crescimento e amadurecimento precoce dos tecidos. Em ambos os casos a planta se torna mais susceptível ao ataque de doenças. Assim como o nitrogênio, o fósforo apresenta respostas variadas em relação às suas adubações e à severidade das doenças. Adubos fosforados solúveis, por exemplo, reduzem a severidade da sarna da batata, mas podem aumentar as perdas causadas por viroses em espinafre. Em relação ao potássio, geralmente, tem-se demonstrado seu efeito benéfico na redução da severidade de inúmeras doenças. Todavia, o excesso dele causa desequilíbrio nutricional e aumenta a severidade de outras doenças. O potássio atua diretamente em vários estágios do relacionamento microrganismos patogênicos  com a planta. O cálcio, por sua vez, está normalmente relacionado ao controle de doenças. A sarna da batata é um exemplo de doenças favorecidas por altos níveis de cálcio. Tratamentos no campo e na pós-colheita com compostos à base de cálcio são utilizados em diversas culturas por causa dos efeitos favoráveis na fisiologia dos frutos e na redução das perdas pós-colheita provocadas por doenças.
Densidade de plantasGeralmente, quanto maior a densidade de plantas, maior a severidade da doença em virtude da maior proximidade das plantas, microferimentos causados por ocasião dos tratos culturais e alterações nas condições climáticas, aumentando a umidade próxima às folhas. Em plantios mais adensados existe a possibilidade de transmissão do microrganismos patogênicos devido aos microferimentos causados pelo contato de partes da planta.
Práticas culturaisAlgumas práticas inadequadas podem favorecer o desenvolvimento de algumas doenças. A amontoa em pimentão e pepino não deve ser feita para evitar uma das principais doenças que ocorre na região do colo da planta. As desbrotas e capações realizadas no tomateiro devem ser feitas a mão, arrancando-se a parte a eliminar, sem esmagamento, para que a mão não fique  contaminada pelo suco da planta, que pode transportar  microrganismos patogênicos de uma planta para outra.
Época de plantioA maior ou menor susceptibilidade das plantas em relação às doenças pode variar conforme a época de plantio. Em função disso, pode-se alterar a data de plantio de uma determinada cultura para fugir da época mais favorável ao desenvolvimento de doenças e pragas, assim como de seus vetores. O cultivo do tomateiro no outono, por exemplo, é considerado problemático nas regiões litorâneas de Santa Catarina em razão do ataque de vaquinhas, trips, vírus do vira-cabeça e da requeima. Já o cultivo de primavera é mais favorável para o tomateiro devido à menor ocorrência de doenças e pragas.
Material de propagação sadio e cultivares resistentesA escolha de um material de propagação sadio é fundamental para o sucesso de uma cultura. Sendo assim, é importante, sempre que possível, utilizar cultivares resistentes ou materiais propagativos livres de pragas e doenças.
A seguir, são citados alguns exemplos de cultivares resistentes às doenças. O tomate do tipo cerejinha e do tipo italiano são considerados mais resistentes às pragas e doenças que os tomates de mesa tipo Santa Cruz e tipo Salada. No caso do repolho, os híbridos Fuyutoyo e Emblem são considerados resistentes à doença podridão-negra. O híbrido de couve-flor Júlia F1 é resistente à alternariose das brássicas.  Os cultivares de batata Epagri 361 Catucha e SCS365 Cota são resistentes à requeima e à pinta preta. Para prevenir viroses em alface, devem ser plantados os cultivares Regina, Verônica e Vera. O cultivar de batata-doce Princesa é resistente ao “mal-do-pé”, enquanto a Brazlândia Roxa é tolerante aos insetos que causam perfurações nas raízes. O cultivar de vagem Preferido é tolerante à ferrugem e à antracnose, e o Favorito tolera a ferrugem e o oídio. Por fim, as cenouras do grupo Brasília são resistentes ao sapeco. A outra opção, não menos importante, é o plantio de materiais sadios. Os microrganismos patogênicos  são transmitidos por sementes e outros materiais de propagação. O plantio de ramas de batata-doce sadias é uma opção para evitar a doença “mal do pé”, por exemplo.                             Pulverização de fungicidas e inseticidasSubstâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (calda bordalesa, calda sulfocálica, biofertilizantes, extratos vegetais e agentes de controle biológicos) devem ser utilizados somente quando necessário e de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças  e brocas do tomateiro e ainda as brocas das cucurbitáceas.

Autor do texto: Luiz Augusto Martins Peruch, e replicado no blog 100% Agroecologia.

20 de junho de 2014

Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense: Resultados de pesquisa – Parte II

Autores
Antônio Carlos Ferreira da Silva, engenheiro agrônomo, M.Sc., pesquisador aposentado da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC, e-mail: ferreira51@ymail.com

Luiz Augusto Martins Peruch, engenheiro agrônomo, Dr., pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site: www.epagri.sc.gov.br


Ainda nos dias atuais, grande número de pessoas ligadas à agricultura sustenta a ideia de que não é possível produzir alimentos sem o uso de adubos químicos solúveis e agrotóxicos. Em função disso, alguns mitos a respeito da agricultura orgânica foram criados e divulgados pelo mundo. Entre eles, destacam-se: “A agricultura orgânica é de alto risco, cara e que exige muita mão de obra. A agricultura orgânica, além de reduzir a produtividade, proporciona produtos orgânicos de padrão comercial inferior e inadequado às exigências dos consumidores”.
A literatura existente, embora ainda escassa, tem mostrado que as crenças sobre agricultura orgânica não são verdadeiras. Conforme pode ser verificado na bibliografia citada e consultada deste boletim, já existem  vários trabalhos que comprovam as vantagens do cultivo orgânico em relação ao convencional para diversas espécies.
Dentre as culturas estudadas no sistema orgânico, as hortaliças, caracterizadas por grande número de espécies, ciclo curto, utilização intensiva do solo e insumos e alta susceptibilidade a doenças e pragas, especialmente quando mal manejadas, apresentam poucos resultados de pesquisa.
A Epagri, por meio das Estações Experimentais em todo o Estado de Santa Catarina, tem contribuído com trabalhos de pesquisa visando à produção de hortaliças no sistema orgânico com resultados promissores. A EEUr, a partir de 2000, concentrou esforços em pesquisas com base agroecológica em hortaliças, especialmente no cultivo de batata e, posteriormente, nas culturas de cebola, tomate, repolho, couve-flor, brócolis, cenoura, alface, beterraba, batata-doce e feijão-de-vagem, com o objetivo de verificar a viabilidade técnica e econômica do cultivo orgânico. A seguir, serão apresentados os resultados de destaque obtidos nos cultivos orgânicos de tomate e cebola. 

Tomate
O cultivo de tomate a céu aberto, devido à maior susceptibilidade a doenças e pragas, tem sido apontado como o maior desafio no sistema de produção orgânico. A doença da parte aérea denominada requeima (Phytophthora infestans) pode arrasar uma lavoura em poucos dias caso não seja tratada com produtos eficientes.

Figura 1Frutos de tomate (cv. Santa Clara) produzidos no cultivo orgânico, plantio de primavera em 2004 na EEUr

Efeito da rotação de culturas no tomateiro sob cultivos orgânico e convencional
Resultados obtidos na EEUr, na média de três  anos (2004, 2005 e 2006), utilizando-se o cultivar Santa Clara, no plantio de inverno/primavera, revelou o efeito da rotação de culturas para o tomate nos sistemas de produção orgânico e convencional. O sistema com rotação de culturas superou o monocultivo em 76,6% e 45,8% quanto à produtividade de frutos comerciais, respectivamente, nos sistemas de cultivo orgânico e convencional. É importante destacar que a cultura do feijão-vagem, semeada em janeiro, foi utilizada em sucessão ao tomate para aproveitamento do tutor.
Quando se compararam os sistemas de produção foi constatado que os eles foram semelhantes quanto ao rendimento de frutos comerciais, alcançando 34,2 e 32,9t/ha nos sistemas de cultivo orgânico e convencional, respectivamente.
Ao se comparar a produção de frutos não comerciais, constatou-se que o cultivo orgânico proporcionou a metade de frutos brocados e com podridão apical (3,7 e 0,5t/ha) em relação ao sistema convencional (5,9 e 3,7t/ha), respectivamente. O efeito repelente da calda bordalesa à broca pequena devido ao sulfato de cobre e a adubação orgânica rica em cálcio explicam, em parte, os resultados obtidos. Convém salientar que no sistema convencional não foi aplicado nenhum produto à base de cobre.
Quanto às doenças, não foram verificadas diferenças entre os sistemas de rotação nos cultivos convencional e orgânico. As incidências de Fusariose e Murchadeira foram reduzidas, o que não permitiu verificar diferenças. Outros tipos de doenças não são afetados pelos sistemas de rotação e não foram avaliadas.


Efeito de produtos alternativos no manejo da requeima em cultivo orgânico
O estudo de novos produtos alternativos visando ao manejo da requeima no tomateiro está sendo realizado desde agosto de 2003 pela EEUr. Cabe ressaltar também os resultados com cultivo protegido de tomate orgânico obtidos pela Estação Experimental de Itajaí[1].
No plantio de inverno/primavera, época mais favorável para a cultura no litoral em condições normais de clima, alcançaram-se produtividades de até 75t/ha de frutos comerciais (o rendimento médio no sistema convencional em SC é de 51t/ha). Em relação à incidência da requeima, verificou-se que a calda bordalesa (0,5%) apresentou boa eficiência no manejo (Peruch et al., 2008). Os demais tratamentos (extrato de cavalinha-do-campo, urtiga, biomassa cítrica, extrato de algas e terra de diatomácea) foram ineficientes no manejo da doença. Os resultados se repetiram posteriormente em outro trabalho que comprovou a ineficiência desses extratos no manejo da requeima do tomateiro.
Nota: DAT = dias após o transplante das mudas de tomate.
Figura 2. Curva de progresso da requeima (Phytophthora infestans) em tomateiro (cv. Santa Clara) pulverizado com extratos de plantas bioativas, ácidos cítricos, terra de diatomácea e calda bordalesa nos plantios de primavera/2004 (à esq.) e primavera/2008 (à dir.) na EEUr. Epagri, 2008



Figura 3. Manejo da requeima do tomateiro com calda bordalesa (sem aplicação [esq.] e com aplicação [à dir.])


Custo de produção com insumos
Normalmente, no sistema convencional de produção de tomate, são recomendadas em torno de 15 pulverizações para o controle de doenças foliares e de insetos-pragas (broca-pequena, traça e vaquinha), totalizando o custo de cerca de R$1.360,00/ha. Por outro lado, o custo no cultivo orgânico com tratamentos fitossanitários para o manejo das doenças foliares com calda bordalesa a 0,5% e de insetos com dipel e óleo de nim (0,5%) pode alcançar R$1.000,00/ha. Em relação à adubação, o custo no sistema convencional e orgânico alcançou R$3.000,00 e R$1.100,00/ha respectivamente.

Conclusões
1. O cultivo orgânico de tomate é viável técnica e economicamente, mesmo sendo uma atividade de risco, pois ocasionalmente há ocorrência de condições climáticas desfavoráveis para a cultura.
2. A calda bordalesa a 0,5% proporciona manejo satisfatório da requeima, viabilizando o cultivo orgânico, mesmo em condições de campo (a céu aberto).
3. O cultivo orgânico do tomateiro proporciona menor número de frutos com podridão apical quando comparado ao convencional.
4. A rotação de culturas é uma prática essencial no cultivo do tomateiro nos sistemas de produção orgânico e convencional.
5. Os gastos com insumos (adubos e tratamentos fitossanitários) no cultivo orgânico representam a metade em relação ao sistema convencional.

Cebola
A cultura da cebola, a exemplo da batata e do tomate, também é uma das mais exigentes em insumos (adubos e tratamentos fitossanitários). As doenças da parte aérea (sapeco e mancha-púrpura) e o trips (inseto-praga) são os que mais limitam a produção de cebola, em especial o cultivo orgânico. Controle alternativo de pragas e doenças, novos materiais e sistemas de produção orgânica são objetos de estudo da equipe da Estação Experimental de Ituporanga[2].

Efeito da rotação de culturas em sistemas de cultivo orgânico e convencional 
Resultados obtidos na EEUr, na média de três anos (2004, 2005 e 2006), utilizando-se o cultivar de cebola Empasc 352 Bola Precoce, revelaram o efeito da rotação de culturas nos cultivos orgânico e convencional. O sistema com rotação produziu 17,4% e 33,3% a mais em relação ao monocultivo nos sistemas convencional e orgânico respectivamente. As culturas da batata-doce e aveia, plantadas e semeadas em novembro e abril respectivamente, foram utilizadas em sucessão à cebola.
Ao se comparar os sistemas de produção, verificou-se ligeira vantagem do cultivo convencional (19,2t/ha) em relação ao orgânico (17,2t/ha) quanto ao rendimento comercial de bulbos.

Figura 4. Bulbos de cebola produzida nos sistemas de cultivo convencional e orgânico em sistemas de rotação de culturas na EEUr


Custo de produção dos insumos
Ao se analisar o custo com insumos, verifica-se, a exemplo das culturas da batata e do tomate, menor gasto no cultivo orgânico. No sistema de produção convencional foram utilizadas em torno de 15 pulverizações para o controle de doenças foliares associadas com três aplicações de inseticidas para o controle de trips, totalizando em torno de R$760,00/ha, enquanto no orgânico foram necessárias em torno de dez pulverizações com calda bordalesa a 0,5% para o manejo de doenças e duas pulverizações com óleo de nim a 0,5 % para o manejo de trips, totalizando R$540,00/ha. Em relação à adubação no sistema convencional o custo chegou a R$900,00/ha, enquanto no orgânico alcançou R$750,00/ha.



Conclusões
1. O cultivo orgânico de cebola é viável técnica e economicamente.
2. A rotação de culturas é uma prática essencial no cultivo da cebola nos sistemas de produção orgânico e convencional.  
3. O custo dos insumos (adubos e tratamentos fitossanitários) no cultivo orgânico é de 30% a menos em relação ao sistema convencional.













[1] O programa de pesquisa de hortaliças da Estação Experimental de Itajaí está voltado para o desenvolvimento de tecnologias para o sistema orgânico de produção em abrigos e em campo e de cultivares apropriados para esse modo saudável de fazer agricultura. O abrigo funciona como um guarda-chuva: a cobertura evita as chuvas em excesso sobre os cultivos, dificultando o surgimento de doenças, enquanto a tela barra a entrada de insetos. Os trabalhos de pesquisa estão voltados para a obtenção de um sistema adequado à produção, sem impactos danosos ao ambiente, e as plantas podem revelar seu potencial de produção e de defesa contra pragas e doenças.

[2] O ataque de trips, principal praga da cultura da cebola, foi reduzido pela aplicação de preparados homeopáticos de calcário de conchas, losna e sal de cozinha. O míldio, doença fúngica, foi controlado pela aplicação de preparado homeopático de nitrato de cálcio

Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense: Resultados de pesquisa – Parte I

Autores

Antônio Carlos Ferreira da Silva, engenheiro agrônomo, M.Sc., pesquisador aposentado da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC, e-mail: ferreira51@ymail.com

Luiz Augusto Martins Peruch, engenheiro agrônomo, Dr., pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC, e-mail: lamperuch@epagri.sc.gov.br

Publicação:  O trabalho faz parte do Boletim Didático nº 88 “Produção orgânica de hortaliças no litoral sul catarinense” publicado pela Epagri. Interessados em adquirir a publicação completa e ilustrada com 205 páginas, devem entrar no site:www.epagri.sc.gov.br e acessar os link “Publicações” e “Boletim didático”.

     Ainda nos dias atuais, grande número de pessoas ligadas à agricultura sustenta a ideia de que não é possível produzir alimentos sem o uso de adubos químicos solúveis e agrotóxicos. Em função disso, alguns mitos a respeito da agricultura orgânica foram criados e divulgados pelo mundo. Entre eles, destacam-se: “A agricultura orgânica é de alto risco, cara e que exige muita mão de obra. A agricultura orgânica, além de reduzir a produtividade, proporciona produtos orgânicos de padrão comercial inferior e inadequado às exigências dos consumidores”.

     A literatura existente, embora ainda escassa, tem mostrado que as crenças sobre agricultura orgânica não são verdadeiras. Conforme pode ser verificado na bibliografia citada e consultada deste boletim, já existem vários trabalhos que comprovam as vantagens do cultivo orgânico em relação ao convencional para diversas espécies.

     Dentre as culturas estudadas no sistema orgânico, as hortaliças, caracterizadas por grande número de espécies, ciclo curto, utilização intensiva do solo e insumos e alta susceptibilidade a doenças e pragas, especialmente quando mal manejadas, apresentam poucos resultados de pesquisa.

     A Epagri, por meio das Estações Experimentais em todo o Estado de Santa Catarina, tem contribuído com trabalhos de pesquisa visando à produção de hortaliças no sistema orgânico com resultados promissores. A EEUr, a partir de 2000, concentrou esforços em pesquisas com base agroecológica em hortaliças, especialmente no cultivo de batata e, posteriormente, nas culturas de cebola, tomate, repolho, couve-flor, brócolis, cenoura, alface, beterraba, batata-doce e feijão-de-vagem, com o objetivo de verificar a viabilidade técnica e econômica do cultivo orgânico. A seguir, serão apresentados os resultados de destaque obtidos no cultivo orgânicos de batata. 


Batata
Resultados obtidos em propriedades de produtores no litoral sul catarinense a partir de 2000 mostraram a viabilidade do cultivo orgânico de batata, validando resultados de pesquisa obtidos na EEUr.

Produtividade e qualidade da batata-consumo
Os resultados obtidos evidenciaram a superioridade dos cultivares Epagri 361 Catucha e SCS365 Cota sobre os demais quanto ao rendimento comercial de tubérculos (Silva et al., 2008). A maior adaptação desses cultivares nas condições de cultivo no litoral catarinense e  a  alta resistência à requeima explicam os resultados obtidos.

Figura 1. Cultivo orgânico de batata na EEUr – SCS 365 – Cota (cultivar catarinense) x Ágata (cultivar holandesa mais plantado no Brasil)

Figura 2. Cultivo orgânico de batata na EEUr – Epagri 361 – Catucha (cultivar catarinense) x Ágata (cultivar holandesa mais plantado no Brasil)


Figura 3Rendimento comercial de batata orgânica para consumo obtido em oito unidades demonstrativas em propriedades de agricultores (plantio de inverno de 2000, 2001, 2005 e 2006), no litoral sul catarinense. Epagri, 2008.

  
     Quanto ao aspecto comercial, observou-se que os cultivares apresentaram tubérculos com aparência razoável a boa quanto à uniformidade e película, e poucos danos de pragas do solo.

Figura 4. Tubérculos, batata-palha e “chips” do cultivar de batata Cota, lançado em dezembro de 2008 na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC


Qualidade da batata processada
Com relação ao teor de matéria seca dos tubérculos obtidos, um dos principais requisitos para industrialização, especialmente na forma de batata-palha, “chips” e fritas, destacaram-se os cultivares Epagri 361 Catucha e SCS365 Cota, com 20,6% e 20,7%, em média, respectivamente.
Outro trabalho de pesquisa realizado na EEUr com o cultivar Catucha evidenciou que o uso de matéria orgânica à base de turfa aumentou significativamente a porcentagem de matéria seca dos tubérculos, quando comparado ao uso de apenas adubos químicos (Silva & Dittrich, 2002).
Ao se comparar a batata Catucha industrializada na forma de palitos pré-fritos congelados, produzida em dois sistemas de produção, verificou-se que a cultivada no sistema orgânico apresentou qualidade superior em relação à obtida no cultivo convencional.

Tabela 1.  Avaliação dos atributos físico-sensoriais da batata Catucha produzida nos sistemas orgânico e convencional, após o processamento, na forma de palitos pré-fritos congelados.
Sistema
Parâmetros físico-sensoriais(1)
Aspecto
Textura
Sabor
Cor
“Crocância”
Orgânico
MB
MB
B
MB
MB
Convencional
R
R
B
B
R
(1) R = Regular (1 ponto); B = Bom (2 pontos); MB = Muito Bom (3 pontos). Avaliação feita por oito degustadores.

Fonte: CCA/UFSC – Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos.


Multiplicação própria de tubérculos-semente no sistema orgânico
Em função do alto custo da “semente” certificada, os produtores utilizam o descarte da própria lavoura (tubérculos miúdos), justamente os que possuem maior probabilidade de estar contaminados por viroses e ser originados de plantas fracas. A multiplicação própria de tubérculos-semente pode reduzir o custo de produção da batata e, principalmente, melhorar a produtividade, especialmente em lavouras de pequenos agricultores, que possuem baixo poder aquisitivo para adquirir “semente” certificada, que, em certos anos, chega a custar 50% do custo total da cultura.
Os cultivares Catucha e Cota destacaram-se dos demais quanto à produtividade total de tubérculos-semente, com rendimentos que variaram de 18 a 25t/ha e 14,8 a 20,2t/ha respectivamente. O cultivar Catucha apresentou uma taxa média de multiplicação de 1:12, o que significa que o plantio de cinco caixas de “semente” do tipo III possibilita a multiplicação de batata-semente de boa qualidade para cerca de um hectare.

Figura 5. Rendimento de tubérculos-semente orgânicos de batata obtidos em duas unidades de observação em propriedades de agricultores (plantio de inverno/2005) no litoral sul catarinense. Epagri, 2008


Efeito da rotação de culturas na produção de batata
         Ao avaliar sistemas de rotação de culturas no período de 1993 a 1999, pesquisadores da EEUr constataram que o cultivo de gramíneas favoreceu a batata, elevando a produtividade em até 86%, melhorando a qualidade e reduzindo a incidência da sarna (Streptomyces scabies), doença propagada pela batata-semente e pelo solo (Vieira et al., 1999). Os autores concluíram que a rotação de culturas com gramíneas por dois anos é suficiente para dobrar a produtividade e melhorar significativamente a qualidade dos tubérculos.

Figura 6Tubérculos de batatas atacados por sarna


Tabela 2. Rendimento de tubérculos comerciais em três sistemas de rotação de culturas para a batata e vantagem comparativa quanto à produtividade dos sistemas de rotação em relação ao sem rotação, no litoral sul catarinense, plantio de outono. EEUr, 1999.
Sistema de cultivo
Rendimento de tubérculos comerciais
(t/ha)
Vantagem comparativa dos sistemas de rotação (%)
1996
1997
1998
Média

Sem rotação
14,5
5,8
7,2
9,2
100
1 ano de rotação
19,3
12,2
19,8
17,1
186
2 anos de rotação
19,3
12,3
18,7
16,8
182
Fonte: Vieira et al. (1999).

Em função dos resultados obtidos, os autores da pesquisa sugerem o esquema de rotação para a batata, conforme a divisão da área.
Divisão     da
área
Espécie
Outono/
inverno
Primavera/
verão
Outono/
inverno
Primavera/
verão
Outono/
inverno
Primavera/
verão
Outono/
inverno
Ano 1
Ano 2
Ano 3
Ano 4
Área 1
Batata
Milho
Azevém
Milho
Aveia
Milho
Batata
Área 2
Aveia
Milho
Batata
Milho
Aveia
Milho
Azevém
Área 3
Aveia
Milho
Azevém
Milho
Batata
Milho
Azevém
Fonte: Vieira et al. (1999).



Custo de produção dos insumos
No cultivo convencional, em um sistema relativamente tecnificado, são realizadas, normalmente, 12 a 15 pulverizações, incluindo fungicidas de contato e sistêmicos, além de inseticidas, quando necessário, com um custo aproximado de R$1.050,00/ha, enquanto no sistema orgânico 10 pulverizações com calda bordalesa a 0,5% para o manejo de doenças foliares e três aplicações com óleo vegetal de nim a 0,5% para o manejo de insetos, totalizando em torno de R$ 600,00/ha, normalmente, são suficientes durante o ciclo da cultura. Em relação à adubação, o custo no sistema orgânico é de cerca de 250,00/ha no caso de o produtor adquirir o esterco de aves, ao passo que no cultivo convencional alcança R$ 1.180,00/ha (Obs.: valores calculados em 2008).

Conclusões
Com base nos resultados obtidos na cultura da batata, conclui-se que:
1. Os cultivares Epagri 361 Catucha e SCS365 Cota são os mais promissores para a produção de batata no sistema de produção orgânica. A boa aptidão dos tubérculos para a indústria na forma de “chips”, batata palha e pré-fritas dos cultivares Catucha e Cota possibilitam aos produtores maior valor agregado pelo produto.
2. A rotação de culturas é uma prática indispensável, com os objetivos de auxiliar no manejo de pragas e doenças da batata, aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos tubérculos e a fertilidade do solo.
3. É viável a multiplicação própria de tubérculos-semente no sistema orgânico a partir de batata-semente de boa qualidade fitossanitária, no plantio de inverno, utilizando-se cultivares adaptados, visando à produção de batata-consumo orgânica no litoral catarinense.
4. O custo de produção dos insumos (adubos e tratamentos fitossanitários), que pode representar até 25% do custo total da batata, é cerca de apenas uma terça parte no sistema orgânico quando comparado ao convencional. Essa vantagem, ao longo dos anos, poderá ser ainda maior, pois no cultivo orgânico a fertilidade do solo é mais duradoura em relação ao convencional.
5. A qualidade dos tubérculos produzidos (tamanho e aspectos externo e interno), seguindo-se as recomendações técnicas no sistema orgânico, é semelhante aos obtidos no cultivo convencional.
6. A adubação orgânica melhora a aptidão dos tubérculos dos cultivares indicados para industrialização.

7. A qualidade da batata processada, dos cultivares com aptidão para indústria, no cultivo orgânico, é superior à obtida no sistema convencional.