Indígenas matogrossenses da etnia Negarotê/Nambiquara fizeram uma oração para dar início à Caravana Agroecológica e Cultural do Mato Grosso, em Cáceres, evento que ocorrerá até a próxima sexta-feira (01). Cerca de cem participantes percorrerão duas rotas com o objetivo de promover intercâmbios com ênfase nas experiências agroecológicas do sudoeste e da baixada cuiabana e os olhares de outras regiões do Brasil. Agricultores familiares, agroextrativistas, lideranças de movimentos sociais do campo e organizações da sociedade integram a atividade.
De acordo com Lucineia Freitas, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desde 2009 o Brasil assumiu o ranking mundial do consumo de agrotóxicos e o estado do Mato Grosso o ranking nacional. Ela destacou a importância do lançamento da Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, após um seminário realizado em Cuiabá (MT) com a participação de várias organizações e sindicatos.
“A média nacional de consumo de agrotóxicos é de 5,2 litros e no Mato Grosso 31 litros. Em 2012 realizamos seminários em todo o estado, e hoje a Campanha tem diversas entidades. Neste ano houve um seminário importante para constituir um comitê local na região de Colider e Alta Floresta. Fizemos uma nota técnica para apresentar ao Ministério Público para aumentar a pulverização terrestre para 300 metros de distância, e em março o governador assinou um decreto para reduzir para 90 metros. Denúncias nos mostram que além daquilo que chamam de acidente, está havendo o uso proposital de agrotóxico em conflito pela terra com a utilização da pulverização”, disse.
“Nessa cidade José Maria Tomé, liderança local que denunciava o uso indiscriminado de agrotóxicos na região foi assassinado. Começaremos a caravana do Mato Grosso vendo um filme que retrata essa realidade, para fazer uma reflexão, se questionar e nos prepararmos para esses desafios e conflitos no estado. E o filme Uma nuvem de veneno, lançado em agosto, produzido pela Fiocruz junto com o Instituto de Saúde da UFMT, fala sobre o uso de agrotóxicos no Mato Grosso”, afirmou.
Ao fim da exibição dos vídeos os participantes debateram o tema. Muitas pessoas relataram as dificuldades enfrentadas em seus territórios, como o caso de suicídios de agricultores na fumicultura no sul do país. Os indígenas relataram que até pouco tempo seus familiares viviam cento e poucos anos, enquanto hoje chegam no máximo aos 80 devido aos impactos ambientais e a falta de alimentos sadios. Uma agricultora da região sul defendeu o uso de insumos orgânicos para o combate de pragas de forma natural, destacando suas experiências bem sucedidas. A reflexão sobre o uso intensivo de agrotóxicos no estado do Mato Grosso foi mais uma vez alvo de análise dos participantes no término da abertura.
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